David Bowie e eu - um relato de inspiração

 

David Bowie Is, Cosac Naify (2014)

Conheci David Bowie quando eu era criança. Foi através do filme Labirinto (1986), que meus pais compraram em DVD. “Labirinto: A Magia do Tempo” não foi bom nas bilheterias. O que é estranho, visto que o mundo criado por Jim Henson (o pai dos Muppets), com seus incríveis duendes, boa ambientação e efeitos especiais, bela atuação de Jennifer Connelly e, claro, o show à parte que é David Bowie (que interpreta o rei dos duendes), na atuação e na trilha sonora, deveriam ser vistos como uma combinação de sucesso. De qualquer forma, o foi para mim.

Jareth, o rei dos duendes, tinha algo de especial que me prendia a atenção. Ele era estranho, mas um estranho interessante. Um bizarro que tinha algo de diferente, mas que de alguma forma me era familiar. Mais tarde fui entender que era a dissidência dos padrões normativos que aquele personagem evocava. A maquiagem, o cabelo gigante e espetado que denota poder (né, Dragon Ball?), as roupas que eram uma mistura de conde vampiro e glam rock, tudo aquilo chamava a atenção.

Fui imediatamente pesquisar mais sobre aquela pessoa, e qual não foi minha decepção ao perceber que aquele cabelo não era real! Que baque! Entretanto, ao ouvir as músicas de Bowie, meus ouvidos identificaram algumas (as mais famosas, Heroes, Let’s Dance, Rebel Rebel) que no fim das contas não me eram tão queridas assim. E o encanto passou.

Poucos anos depois eu volto a ouvir os rocks dos anos 70 e 80, dessa vez com mais conhecimento em navegar na internet, buscando assim as letras e os clipes. E me deparo novamente com Bowie. Mas dessa vez, conheço o Bowie de Ziggy Stardust e Alladin Sane. Ele não dava vida a personagens apenas no cinema. Sua carreira musical fora recheada de personagens. Foi um grande achado, e que me fez querer conhecer cada vez mais daquele artista.

Ao longo de sua carreira, Bowie criou diversas personas no palco para representar diferentes momentos de sua vida. Ele era teatral, era experimental, era de uma originalidade que inspirou a tantos, de Kurt Cobain à Lady Gaga, de Freddie Mercury à Rita Lee. Ele brincava com os padrões de sexualidade e gênero com suas personas andróginas, e deu grande contribuição ao movimento de libertação gay da época.

Eu quis conhecer Bowie para além das canções que fizeram sucesso. E Bowie é uma mina de criatividade e talento. Ele passeou por tantos estilos musicais, do psicodélico ao glam rock, do folk ao new-wave, e sua carreira como ator envolve, além do rei dos duendes, um alien que caiu na Terra (um dos temas que ele mais amava, com certeza) e o cientista Nikola Tesla.

E se você pensa que esse homem se esgota em música e cinema, está enganado. Há muito ainda para se dizer do papel de Bowie no teatro, nas artes visuais, na moda, na literatura e poesia. Sua estética é rica e derivada de tantas inspirações: Nietzche, ficção científica, budismo, Aleister Crowley, androgenia, piratas, aliens...

David Bowie foi uma estrela de primeira grandeza cujo brilho não se apagou com sua morte, que foi a primeira e até hoje única morte de uma celebridade que me fez chorar. Entretanto, como alguém tão extravagante em vida, ele não podia partir sem se despedir, e dois dias antes de falecer (ou voltar para o planeta de onde veio, vai saber) ele nos deixou um de seus maiores álbuns, Blackstar.

Conhecer David Bowie foi um grande prazer na minha vida. Bowie é um mistério que vale a pena tentar desvendar. Bowie é a arte em suas várias manifestações, nos convidando a entender o mundo a partir de diferentes olhares. É a música que casa com a moda e se faz teatral e performática, exibindo toda sua controvérsia e capacidade de se reinventar. 

           

David Bowie Is, Cosac Naify (2014)


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