Círculo de Fogo (2013), por Legendary Pictures |
Círculo de Fogo (Pacific Rim) é um filme estadunidense de
2013 de aventura e ficção científica dirigido por Guillermo del Toro (também
diretor dos filmes “O Labirinto do Fauno” e “A Forma da Água”). Nele,
acompanhamos a luta da humanidade contra os kaijus,
criaturas gigantes surgidas de uma fenda no oceano Pacífico que destroem
cidades e exterminam populações inteiras. Como resposta, as nações humanas
uniram forças e criaram os jaegers,
robôs gigantes de combate pilotados por duas pessoas e capazes de fazer frente
aos kaijus. Acompanhamos a história
de Raleigh Becket (Charlie Hunnam), um piloto de jaeger que perdeu seu irmão em combate. Círculo de Fogo é uma
película que traz para os ocidentais a experiência cinematográfica dos filmes
japoneses de kaijus.
Os kaijus
A
palavra kaiju em japonês pode
significar monstro estranho ou incomum, e geralmente é usada para se referir a
monstros gigantes. O universo dos kaijus
nasceu com o filme Godzilla (o mais famoso dos kaijus), em 1954.
Em
Círculo de Fogo eles são criaturas artificiais criadas por uma raça alienígena
de colonizadores – os Precursores. Essa raça utiliza-se desses monstros para
eliminar mundos inteiros que eles em seguida possam se estabelecer e colonizar.
Os kaijus são verdadeiras máquinas de
guerra sendo projetadas para a destruição. No filme, vemos que eles também
despertam curiosidade e até admiração em alguns seres humanos, como o Dr.
Newton Geiszler (Charlie Day) que é um pesquisador dos monstros e possui até
uma tatuagem de kaiju.
As respostas da humanidade
O
primeiro kaiju surgiu em San
Francisco e foi derrotado pelo exército americano com tanques e mísseis. Mas os
seguidos ataques dessas feras mostraram que as armas convencionais não eram
suficientes para essa empreitada. As nações decidem então deixar suas
diferenças de lado para criar uma estratégia conjunta de resposta à crise
causada pelos kaijus. Unindo as
maiores conquistas da ciência e da engenharia são criados os jaegers, robôs gigantes equipados com
diversas armas para derrotar os monstros.
Cada jaeger é pilotado por duas pessoas
através de um complexo traje de tecnologia avançada que permite uma espécie de
neuroconexão entre os pilotos. Essa conexão mental faz com que eles
compartilhem lembranças, sentimentos atuais e passados, além de reviverem
diversas memórias. Para conseguir pilotar o jaeger
é preciso não se apegar a essas lembranças revividas nem reprimir as emoções,
impedindo seu parceiro de vê-las. Ali, ambos ficam despidos um para o outro e
apenas o estabelecimento de uma conexão sincera é capaz de garantir aos pilotos
o controle do jaeger.
Se num
primeiro momento esses robôs gigantes foram capazes de fazer frente aos kaijus, os ataques dos monstros aumentam
de forma exponencial. Além disso, os kaijus
seguintes são mais fortes e mais adaptados para a luta contra os jaegers. Dessa forma, os líderes
mundiais decidem abandonar o programa de criação dos robôs e surgem com uma
nova estratégia: a criação de imensas muralhas que protegeriam a humanidade dos
monstros (algo muito parecido com Shigenki no Kyojin).
Apesar
de a maioria dos jaegers terem sido
desativados, Stacker Pentecost (Idris Alba), um militar que comandava as
operações deles, monta uma base em Hong Kong com os robôs sobrantes reunindo
diversos soldados, dois cientistas e um pequeno punhado de pessoas capazes de
pilotar um Jaeger. Entre eles está Becket, que após perder seu irmão passou
anos vivendo de bicos que encontrava, entre eles participar da construção da
tal muralha salvadora. Não demora muito para que surja um kaiju capaz de ultrapassar as muralhas, e cabe aos últimos jaegers defenderem a humanidade.
Crítica – conexões sinceras para vencer o
perigo
Círculo
de Fogo é um filme de 2013 que eu assisti apenas recentemente. Não é possível
fazer a leitura de uma obra sem interpretá-la a partir do momento histórico
vivenciado pelo leitor. Dessa forma, a minha interpretação levará em conta o
contexto que vivemos hoje em 2021.
Os kaijus são um perigo externo do qual a
humanidade não tem qualquer conhecimento ou preparo para lidar com ele. Eles
obrigaram os líderes mundiais a uma união. Num primeiro momento a resposta está
na ciência e na tecnologia para a criação de algo que fosse capaz de enfrentar
os kaijus – os jaegers. Pouco tempo depois a crença (e o investimento) na ciência
dão lugar à politicagem: a muralha salvadora que vai impedir o mal de entrar.
Como toda boa muralha essa também foi trespassada. Não, não é possível enfrentar os perigos buscando ignorá-los como se
eles não fossem nos alcançar. Não é possível vencer uma crise mundial de forma
passiva. É preciso enfrenta-la com união entre os países e as pessoas,
investimento na ciência e fé na humanidade.
Os jaegers são a resposta, mas para
pilotá-los é necessário conectar-se verdadeiramente com seu co-piloto, alguém
que por um instante poderá adentrar a sua mente, ver seus traumas, seus passos
errados, suas emoções reprimidas. Tentar esquecê-las ou ficar preso a elas
impedirá o controle do jaeger. É
preciso sentir e deixar ir, aceitando o que passou. A união política e a ciência são essenciais, mas o último passo para
enfrentar o perigo é o estabelecimento de conexões sinceras.
São
tantas lições para os dias de hoje onde um vírus desconhecido ameaça a vida
humana, vacinas estão sendo disputadas e não distribuídas, cientistas são
desacreditados e fórmulas milagrosas são incentivadas por populistas enquanto
milhares morrem por dia. Que o belo filme de Del Toro possa nos fazer refletir
sobre os tristes momentos que vivemos e nos ajudar a enfrentar os “kaijus” de nossa realidade.